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RIO DOCE AGONIZANDO

Cinco de novembro ficará registrado o dia nacional da hecatombe provocada pelo rompimento da barragem de Fundão, que sepultou o Ecossistema do Rio Doce riscando do mapa definitivamente o Distrito de Bento Rodrigues.

Uma lama tóxica deixou um rastro de destruição, que se estendeu por todo a bacia do Rio Doce, causando a morte de pessoas, impactando a flora e fauna até a sua foz em Regência, área sensível para a reprodução de peixes e crustáceos.

A mineradora Samarco que deu causa ao acidente ambiental obteve recentemente um lucro de 2,8 bilhões de Reais, alega ter cumprido todas as exigências legais de segurança da barragem, e, mais, exime de suas obrigações legais sobrepondo a importância da empresa no contexto da economia de Mariana e região.

O Bandeirante Bento Rodrigues teve participação importante no ciclo do ouro na região de Mariana, que constituiu- se na primeira capital a ser projetada em Minas Gerais. A herança cultural deixada pelo ouro está presente na paisagem da arte barroca de inspiração portuguesa: casarios, igrejas com seus altares dourados, e, está viva na história através de personagens representativos da cultura brasileira. Entre eles, o poeta e inconfidente Cláudio Manuel da Costa, o pintor sacro Manuel da Costa Ataíde e Frei Santa Rita Durão, autor do poema “Caramuru”. 

Paira no ar uma terrível indagação, será que os impactos ambientais gerados pelo ciclo do ouro não foram compensados através da agregação do patrimônio histórico cultural na economia das cidades históricas?

De outro lado, na exploração do minério de ferro não houve por parte da empresa nenhum cuidado de se prevenir contra eventuais riscos ambientais na área atingida pela lama, e, tão pouco ocorreu ações comprometidas com programas de responsabilidade socioambiental voltados para o desenvolvimento minimamente sustentável capaz de produzir resultados efetivos para a comunidade de seu entorno, tais como a geração de renda através de programas sociais voltados para a economia solidária, e, principalmente não houve a compensação ambiental com a criação de um fundo ambiental voltados para a recuperação da Bacia do Rio Doce.

Apesar do desenvolvimento da tecnologia e do avanço da legislação atual, os interesses econômicos sobrepuseram à preservação e conservação dos recursos naturais, sobretudo a omissão do Poder Público em fiscalizar a segurança da barragem de rejeitos, e, os riscos ambientais advindos de sua ruptura representam o atual cenário de descaso com meio ambiente, ou seja, a catástrofe deixará uma herança maldita para as futuras gerações, especialmente para a sociedade as margens do Rio Doce.